(Tempo de Leitura: 6 min.)

O mundo da Cibersegurança ainda é, predominantemente masculino, com as mulheres ocupando apenas cerca de 20% das posições na área. Porém, cada vez mais acompanhamos o ingresso de mulheres em cibersegurança devido às ações de organizações como a WOMCY (Women in Cybersecurity).

Convidamos Andréa Thomé, sócia diretora para soluções de GRC na Primordial Consultoria, diretora para soluções de cibersegurança na everis e líder do capítulo WOMCY (Women in Cybersecurity) Brasil. Também convidamos Eva Pereira, responsável por marketing, conscientização em Segurança da Informação e responsabilidade social na IBLISS Digital Security, além de líder de Alianças da WOMCY (Women in Cybersecurity).

Nossas convidadas trazem informações relevantes sobre o assunto e com base em estudos elas abordam temáticas importantes como diferenças salariais entre homens e mulheres e, principalmente como a desigualdade de gênero contribui para a pouca representatividade das mulheres em cibersegurança.

Além disso, elas compartilham dicas preciosas para as mulheres que desejam ingressar na área de cibersegurança e como todos podem contribuir para o desenvolvimento de um mercado de trabalho mais igualitário em colaboração com a WOMCY.

Saiba mais sobre os desafios e caminhos para maior participação de mulheres no mercado de Cibersegurança

Representatividade das mulheres em cibersegurança

Nossas convidadas iniciam a conversa mencionando como a pouca representatividade das mulheres em cibersegurança é notável e está presente no mercado há bastante tempo. Elas nos contam dos estudos sobre o tema e compartilham conosco suas descobertas das origens do problema e quais ações podem ser realizadas para aumentar o número de mulheres em cibersegurança.

Poucas Referências

Andréa expõe a falta de outras mulheres referências como um dos motivos que levam a pouca representatividade das mulheres em cibersegurança. Segundo ela, as meninas que ainda não ingressaram na universidade não possuem referências de mulheres que trabalham na área de Segurança da Informação e isso faz com que essas meninas dificilmente escolham a carreira como profissão.

Cultura

Nossa convidada Eva apresenta a cultura social como um dos fatores mais importantes que contribuem para o cenário atual das mulheres em cibersegurança. De acordo com Eva, as mulheres não são incentivadas ao desafio enquanto crianças e por isso não enxergam carreiras em tecnologia como opção.

Maturidade da Área de Cibersegurança

Além desses fatores, nossas convidadas informam como o não entendimento sobre o que é a área de cibersegurança influencia a pouca representatividade feminina na área. 

Andréa explica: “Hoje eu vejo muito mais os profissionais migrando para Segurança da Informação do que escolhendo a área como primeira opção. (…) Acredito que precisamos trabalhar para disseminar mais a amplitude da área. Muitas pessoas ainda enxergam a cibersegurança como uma carreira extremamente técnica, e hoje sabemos que existem muitas oportunidades em gestão e processos.”

Desigualdade de Gênero

Outro motivo justificável para a pouca representatividade das mulheres em cibersegurança é o problema da desigualdade de gênero latente no setor de tecnologia. A desigualdade de gênero acontece desde salários, oportunidades, divisão de tarefas e responsabilidades até os fatores mais humanos como descrença na capacidade das mulheres e preconceito.

Eva nos conta como ela enxerga a desigualdade de gênero presente no mercado de cibersegurança:

“Hoje eu acredito que é mais fácil resolver esse problema. Eu já passei por muita situação em que não acreditavam que eu era capaz de realizar um trabalho por ser mulher, e por isso eu precisei me posicionar muitas vezes. (…) Nessas situações, eu fiz o meu melhor e apresentei resultados, assim as pessoas entenderam que eu tinha condições de realizar o meu trabalho. (…) Com o tempo, eu fui me importando menos com essas situações e foquei mais no meu trabalho. (…) O conselho que eu dou para as mulheres é nunca perder a força e buscar referências de mulheres além do mundo da tecnologia.”

Andréa explica como o momento atual é muito propício para as mulheres ingressarem em cibersegurança. Hoje temos um gap mundial com mais de quatro milhões de vagas em Segurança da Informação, segundo pesquisa trazida pela convidada. 

“Tecnicamente falando, em termos de oportunidades e espaço no mercado não deveríamos ter dificuldade alguma. (…) Agora se a mulher decidir prestar atenção aos profissionais e chefes que não acreditam nela, ela vai conviver com mais dificuldades e reduzir sua chance de êxito na profissão.”

Desigualdade salarial em cibersegurança

Questionamos as convidadas sobre a realidade do mercado de cibersegurança para entender se realmente as mulheres recebem menos que os homens e os motivos relacionados a essa situação. 

Andréa nos conta sobre uma pesquisa completa que ela teve acesso e compartilha conosco.

“O menor gap salarial encontra-se na geração do milênio (nascidos entre 1980 e 1995), principalmente quando falamos daqueles que ganham em torno de US$50.000,00 por ano. A partir disso, eu já começo a ter gaps mais significativos, como a geração babyboomers (nascidos entre 1945 e 1964) e geração X (nascidos entre 1965 e 1981). (…) Por exemplo, na geração X para quem ganha entre US$ 50.000,00 e US$ 100.000,00 por ano estamos falando de 12% de disparidade entre os salários das mulheres e homens, considerado o maior grau de disparidade apresentado pela pesquisa.”

Andréa compartilha que em outras pesquisas ficou claro que não existe diferença entre as tarefas executadas por homens e mulheres, concluindo que no mercado de cibersegurança homens e mulheres possuem responsabilidades semelhantes e executam tarefas similares. 

Eva complementa as informações trazidas por Andréa ao mencionar quais possíveis motivos ou fatores contribuem para essa desigualdade salarial na área de tecnologia.

“Muitas vezes para fazer parte da área, muitas de nós aceitam receber menos. (…) Também atribuo essa desigualdade salarial aos mitos de que mulheres são menos capazes e que por sentir cólicas, ter filhos ou poder engravidar a qualquer momento são justificativas para pagar menos em comparação aos homens.”

Nossas convidadas acreditam que as áreas de gestão de RH das empresas podem ajudar a mudança desse cenário. Andréa cita dois programas da WOMCY voltados para o ambiente corporativo, trabalhando em conjunto com as áreas de gestão para entender o cenário e adotar medidas para igualdade salarial em cibersegurança.  

Liderança das mulheres em cibersegurança

De acordo com um estudo trazido pela Andréa, foi comprovado que as mulheres em cibersegurança chegam mais rapidamente a cargos de liderança, apesar de representarem uma minoria na área. Segundo ela, isso acontece porque as mulheres investem mais em capacitação em comparação aos homens.

“Em Segurança da Informação, em termos de graduação e pós-graduações, as mulheres possuem mais certificados. (…) Os homens podem enxergar isso como um desafio e também investir em sua capacitação profissional. (…) É importante deixar claro que essa pesquisa foi realizada em âmbito mundial e não significa que é a mesma realidade para a América Latina e o Brasil, mas funciona como um incentivo para nós.”

Como as mulheres podem ingressar na área de cibersegurança

As convidadas explicam que muitas vezes as mulheres possuem um efeito auto sabotador e isso pode atrapalhar as profissionais que buscam entrar em cibersegurança. Segundo Andréia, as profissionais precisam acreditar no seu potencial e adotar uma atitude mais arrojada diante os desafios.

“A mulher é mais cautelosa, ela quer preencher todos os requisitos da vaga antes de enviar o currículo, enquanto o homem submete seu currículo sem possuir todos os requisitos, por exemplo. (…) Precisamos trabalhar melhor isso, a mulher precisa reconhecer o seu talento e não esperar pelo reconhecimento do outro em primeiro lugar.”

Eva complementa dizendo que além de uma atitude ousada, as profissionais devem estudar bastante e que a transição de carreira é possível independente da área de formação.

“Hoje a área de Segurança da Informação é muito abrangente. Por exemplo, você pode entrar em vendas, marketing, direito digital, gestão ou governança. (…) Hoje a área é tão ampla que não deveríamos ter dificuldades nessa transição. A profissional precisa enxergar essa amplitude, entender como as habilidades e conhecimentos que já possui podem ser potencializadores na sua nova função. (…) As mulheres precisam tirar o efeito auto sabotador da frente e ir em busca do seu foco e objetivo a ser alcançado.”

Conheça a iniciativa WOMCY

A WOMCY (Women in Cybersecurity) é uma organização sem fins lucrativos, composta por mulheres, com foco no desenvolvimento da cibersegurança na América Latina. A organização está presente em pelo menos 14 países e no Brasil possui cerca de 300 pessoas inscritas na organização.

Programas

O projeto possui nove programas. Cada programa trabalha especificamente com um público. No meio corporativo, existem programas onde as profissionais buscam parcerias e entendimento junto ao RH sobre vagas, habilidades exigidas pelo mercado e gaps profissionais. Além disso, existe um programa de mentoria para mulheres profissionais em cibersegurança.

A WOMCY também atua dentro das universidades realizando palestras e encaminhando vagas existentes no mercado para as estudantes. Ainda no meio educacional, existem programas voltados para as crianças onde o objetivo é conversar com as crianças sobre Segurança da Informação e conscientização sobre ameaças digitais.

Existem mais dois programas que buscam trabalhar os fundamentos da WOMCY. Assim, citamos um programa voltado para doação do tempo das voluntárias a organizações dedicadas a mulheres e crianças. Por fim, a WOMCY possui um programa desenhado para receber doações de tempo e recursos financeiros por parte de terceiros.

Iniciativa WOMCY HeForShe

Essa iniciativa tem como objetivo encorajar profissionais homens a tomarem ações e medidas contra a desigualdade de gênero em cibersegurança. Andrea compartilha conosco sua satisfação com o projeto.

“É uma oportunidade incrível ter líderes de mercado engajados na causa de diversidade no segmento de cibersegurança.”

Engajamento

Eva nos conta que durante sua carreira foi responsável por diversas iniciativas inclusivas das mulheres em cibersegurança e com sua entrada na WOMCY esse trabalho foi potencializado.

“Tem sido muito gratificante e fico muito feliz em ver a quantidade de mulheres que estamos apoiando. (…) Há dois anos, pesquisas mostravam que apenas 8% do mercado de cibersegurança era composto por mulheres, hoje esse número mudou para 20%. Imagina o que podemos construir nos próximos anos?”

A WOMCY permite o engajamento entre homens e mulheres em um trabalho colaborativo para a concretização da equidade de gênero no mercado de cibersegurança. Acesse o site da WOMCY e veja como você pode contribuir para um mercado de trabalho mais justo.

Você também pode curtir isso:

Av. Angélica, 2582 – 2° Andar
Bela Vista – São Paulo/SP
CEP 01228-200
+55 (11) 4395-1322
contato@gatinfosec.com

Siga-Nos

×